Em tempos difíceis como uma pandemia, lidar com a Miastenia e com a depressão pode ser mais desafiador.
“Fique em casa!” é o que mais ouvimos nas últimas semanas e o novo Coronavírus (falamos sobre a relação dele com a Miastenia Gravis aqui) chegou às nossas vidas como um tsunami. Mudou todo o cenário ao nosso redor, impactando a rotina, os hábitos, as relações pessoais e afetivas… com ele, afloraram medos.
Com isso, enfrentamos medo de o vírus contaminar a nós e a quem amamos, vindo a sofrer com a doença; medo em relação à situação financeira (nossa, de amigos, de familiares, da Nação, do mundo).
Não é difícil que tal devastação cause impactos na nossa saúde mental, levando a síndromes de ansiedade ou depressão.
“Fique em casa!”, mas cuide da sua saúde mental.
Esse alerta vale ainda mais para os miastênicos, que tendem a ter mais ansiedade do que pessoas sem a Miastenia Gravis.
“O uso crônico de corticoide, medicamento muito utilizado na Miastenia Gravis, acaba também aumentando o risco de depressão”, atesta o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista do Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas e do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Santa Marcelina, ambos de São Paulo.
De acordo com ele, tratar tanto a depressão quanto a ansiedade de quem sofre com a doença é fundamental.
É que esses quadros aumentam o risco de descompensações da Miastenia Gravis, além de impactarem diretamente na qualidade de vida dessas pessoas.
Lembre-se que essa rara doença autoimune não tem cura, e todo o tratamento visa levar o paciente a conseguir ter uma vida normal ou o mais próximo dela, ou seja, com uma boa qualidade de vida.
Como tratar a depressão tendo Miastenia?
“Não há nenhum medicamento antidepressivo 100% seguro para Miastenia, mas em geral a maioria é bem tolerado”, avisa o Dr. Estephan.
Mesmo assim, a automedicação não é recomendada. Até porque há medicamentos, como os benzodiazepínicos, que costumam ser administrados para ansiedade, mas devem ser evitados por miastênicos, sempre que possível.
Converse com seu médico especialista em Miastenia Gravis sobre a depressão, que poderá indicar a melhor escolha para você e que apresente o menor risco.
Ele vai considerar o quadro da Miastenia e a condição da sua saúde mental, identificando se você sente uma angústia, uma ansiedade, uma depressão ou uma fobia.
Então, como evitar?
Ficar em casa não significa ficar de pijama largado na cama ou no sofá o dia todo. Você até pode tirar um dia ou outro para total inatividade, veja-o como uma folga, mas não todos os dias.
“O atual isolamento social aumenta a ansiedade, a irritabilidade, os episódios de insônia… Por isso, a pessoa precisa ter cuidados para balancear a situação”, explica o Dr. Henrique Gonçalves Ribeiro, médico psiquiatra e paliativista do Hospital Sírio-Libanês e do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Independentemente de ter ou não Miastenia, o Dr. Ribeiro ensina que precisamos de uma estratégia de descompressão emocional para estimular o relaxamento, a sensação de prazer e momentos de distração.
“O principal ponto é o suporte social, o cuidado mútuo, favorável para se sair bem desse período de isolamento”, destaca ele.
Não existe uma fórmula única porque cada ser humano tem seus gostos, hábitos e particularidades. A seguir, damos algumas sugestões para inspirar você a traçar sua estratégia de descompressão emocional.
Alguns cuidados para colocar na prática
- Mantenha as relações sociais. A recomendação é isolamento físico somente. Não devemos sair para visitar amigos e familiares, para conversarmos com as pessoas nas ruas e estabelecimentos comerciais. No entanto, a internet e aplicativos de áudio e vídeo permitem que as relações pessoais aconteçam a distância.
- Evite álcool e drogas. Normalmente, essas substâncias já não fazem bem, pior ainda quando são usadas como subterfúgio, como uma forma de “fugir” da realidade.
Além disso, não tome remédios por conta própria. Simplesmente, porque, no mínimo, deteriora a saúde física e mental . E neste momento a melhor estratégia é não precisar recorrer a um pronto-socorro, ainda mais por excessos que poderiam ser evitados.
- Livre-se do bombardeio de informações. É bacana estar bem informado, acompanhar o noticiário, mas a pandemia da COVID-19 abriu um grande leque de canais para que recebamos informações o tempo todo, de todo lado, muitas delas as chamadas fake news, ou em português, notícias falsas.
Esse bombardeio de informações, confiáveis ou não, mexem com o emocional e sobrecarregam o estado mental para processar tudo o que nos chega. Então, livre-se dessa enxurrada, não queira ler e ouvir tudo o que recebe nos aplicativos e nas redes sociais.
- Busque atividades lúdicas. Aqui entram as práticas que lhe dão prazer. Há opções para a pessoa fazer sozinha ou com outras, presencialmente quando estão confinadas no mesmo espaço ou virtualmente (cada um na sua casa).
São muitas as opções: leitura de livro, artesanato, palavras cruzadas, quebra-cabeça, jogos de tabuleiro.
Outra opção são jogos de cartas (inclusive há aplicativos e sites gratuitos de buraco, tranca, truco etc. que permitem que você jogue com amigos ou parentes a distância).
E por que não assistir filmes e séries e combinar com alguém de verem um mesmo programa de TV cada um na sua casa e ficarem trocando ideias através do Whatsapp, por exemplo?
- Pratique atividades físicas. As pesquisas garantem que, ao nos exercitarmos, nosso organismo libera várias substâncias, entre elas a endorfina, que está por trás da sensação de bem-estar.
Então, praticar atividades não só faz bem fisicamente, incluindo o aumento da nossa imunidade contra doenças, mas também melhora a saúde mental. Impacta até na nossa autoestima quando conseguimos ver no espelho os resultados do nosso esforço.
Mesmo dentro de casa, é possível praticar uma série de atividades físicas. Mesmo que você não disponha de uma esteira ou uma bicicleta ergométrica, é possível praticar tai chi chuan, yoga, dança e vários tipos de ginástica.
Há muitos aplicativos para celular que ajudam nessas práticas, assim como vários vídeos disponíveis, por exemplo no YouTube, que nos fazem sentir com um professor dentro de uma academia.
Aqui também vale incluir exercícios de relaxamento ou de meditação, que fazem bem para o corpo e para o espírito.
- Aprendizagem. Que tal usar o tempo disponível para aprender algo novo? Pode ser um curso voltado a sua área de atuação, um idioma e até a preparar uma receita que nunca tentou. Há vários cursos gratuitos e pagos à distância.
- Balanceie sua alimentação. Opte por uma alimentação saudável, até porque ninguém quer sair da quarentena com vários quilos a mais.
O consumo de nutrientes equilibrados garante saúde física e mental. Evite frituras, alimentos processados, excesso de açúcar e de sal. Dê preferência a frutas, verduras e legumes frescos.
Na maioria dos locais, é possível fazer compras de supermercado e em hortifrútis que entregam na sua casa. Uma dica valiosa é fazer a higiene de todos os produtos recebidos antes de armazená-los adequadamente e, assim, evitar o contágio do Coronavírus.
- Hidrate-se. Mesmo em isolamento, ainda assim é preciso tomar muita água diariamente. O indicado é entre 1,5 litro e 3 litros, dependendo da idade e da condição física.
A sua saúde importa!
Pronto para traçar sua estratégia? Não esqueça, de forma alguma, manter os tratamentos indicados pelo seu médico, para evitar que a condição de sua Miastenia se agrave.
Se mesmo assim estiver se sentindo deprimido, busque ajuda profissional. Esta pandemia aflorou iniciativas individuais e de grupos, que estão dedicando parte do seu tempo para auxiliar pessoas de forma remota e gratuita.
Pensamento positivo:
O próprio Dr. Henrique Ribeiro tem feito lives no Instagram (clinicahenriqueribeiro). Ele faz parte do grupo SOS de Apoio Emocional, que reúne profissionais voluntários, treinados para intervir em situações de luto, perdas e crises, espalhados por sete estados do Brasil.
E uma última dica: Olhe para um copo com metade de água. Você o vê meio cheio ou meio vazio? Nossa mente é como um maquinário muito complexo, e temos, alguns mais outros menos, a capacidade de mudar nosso modelo mental. Muitas vezes, exige um esforço, mas tente ver o copo meio cheio.
Pare por um momento e olhe o lado positivo de tudo o que está acontecendo neste momento. As pessoas sempre diziam que não tinham tempo para várias coisas, como ler um bom livro, fazer exercícios, estudar um idioma, aprender algo novo, arrumar o armário e separar itens para doação… agora têm.
Quantas não olhavam só para seu próprio umbigo e agora pensam no próximo? E passaram a agir a favor deles! O ar está menos poluído, e até ouvimos mais pássaros cantando até nas grandes cidades, como São Paulo.
Para lidar com a Miastenia e a depressão, vale fazer uma lista de coisas boas como essas, deixando-a em local visível. E, quando começar a bater aquele sentimento de tristeza, passe o olho por ela e deixe-se ser inundado por uma onda de otimismo.