Uma mulher com Miastenia Gravis (MG) pode ser mãe. Entretanto, ela precisa ter um acompanhamento médico com bastante seriedade, porque há riscos tanto para ela quanto para o feto.
O bebê na maioria das vezes nasce saudável, mas há a possibilidade de apresentar os anticorpos da Miastenia Gravis passados pela mãe, que geralmente desaparecem em pouco tempo.
O ideal é que a gestação possa ser programada com antecedência. Quanto mais tempo a mulher tiver sido diagnosticada, mais segura é a gestação. Até porque, o primeiro ano da Miastenia Gravis é um período em que uma gravidez não é indicada, porque há maior risco de complicações.
“O início da doença é o período em que a Miastenia Gravis está mais ativa, então as descompensações e possíveis crises miastênicas são mais comuns. Dessa forma, idealmente, recomenda-se que a gravidez seja planejada a partir do terceiro ano de doença, quando a atividade da Miastenia está mais estável”, explica o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista.
Além disso, o médico deve verificar quais medicamentos a mulher faz uso regular, porque alguns poucos podem causar sequelas ao feto, além de complicações à gestante.
Durante a gestação, a miastênica está suscetível a ter os sintomas de fraqueza e fadiga muscular característicos da doença. Um estudo europeu, porém, revelou que os sintomas podem ser 30% a 40% mais graves durante a gestação e, principalmente, no decorrer de seis meses após o parto, quando pode haver maior ativação da autoimunidade, e, em geral, há maior demanda da mãe, com noites mal dormidas e grande atividade no dia a dia cuidando do bebê.
Por outro lado, há mulheres que experimentam melhora de seus sintomas habituais do período prévio a engravidar, pela diminuição da imunidade característica da gestação.
Momento do parto
O parto é quando se exige cuidado redobrado, pois é nesse momento que a mãe é mais exigida fisicamente, e se a doença não estiver compensada pode haver uma piora do quadro.
Nada impede que o parto seja normal quando não há nada errado com o bebê dentro da bolsa e a mãe esteja com a miastenia bem controlada. Nesse caso, a indicação da via de parto é tal qual uma gestante sem a doença. No entanto, recomenda-se evitar trabalhos de parto muito prolongados.
O que pode ocorrer é a necessidade de utilização de fórceps ou extrator obstétrico, caso a mamãe miastênica tenha dificuldades em fazer a força exigida naquele momento para o nascimento, o que pode acontecer se ela sentir fadiga muscular na hora. Felizmente, segundo o Dr. Estephan, a principal força necessária para o parto é da contração uterina, e essa não é afetada pela miastenia, de forma que fadigas musculares leves da mãe não costumam atrapalhar o parto.
A cesárea é indicada para aquelas que apresentam, durante a gestação, um quadro mais intenso de Miastenia Gravis ou se estiver em crise miastênica. “Se, por acaso, a miastênica estiver descompensada e com dificuldades respiratórias, pode-se lançar mão de anestesia geral e intubação da paciente para garantir-se a máxima segurança do parto”, avisa o especialista.
Miastenia Neonatal
Após o nascimento, a Miastenia Gravis da mãe pode piorar, geralmente, no decorrer das três primeiras semanas. Quanto ao recém-nascido, cerca de 80% deles nascem saudáveis. Os 20% restantes apresentam a doença, nesse caso chamada de Miastenia Neonatal.
É que na Miastenia Gravis há a produção de anticorpos que atacam erroneamente os transmissores que carregam a mensagem dos nervos para a contração de músculos voluntários (aqueles que temos o controle, como o da fala, de piscar, de segurar um objeto etc.). Esses anticorpos podem atravessar a placenta. Então, um em cada cinco bebês nascem com os anticorpos da mãe em seu organismo, os quais desaparecem em até três semanas de vida. Durante esse tempo pode haver sintomas de miastenia no bebê.
Segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Miastenia Gravis, do Ministério da Saúde, os bebês com Miastenia Neonatal podem apresentar sintomas já nos primeiros três dias de vida. Os sintomas transitórios costumam ser: choro fraco, dificuldade de sucção, fraqueza generalizada, tônus diminuído, dificuldade respiratória e ptose (pálpebra caída).
Em geral os sintomas são leves e não precisam ser tratados. “Caso os sintomas sejam mais importantes, o tratamento é realizado com piridostigmina durante o tempo que os sintomas duram, ou seja, no máximo 3 semanas. Em raríssimos casos de sintomas muito graves utiliza-se tratamentos mais invasivos, como a plasmaférese”, afirma o Dr.Estephan.
Período da amamentação
A mãe pode amamentar seu bebê, mas o médico precisa avaliar se algum dos medicamentos que ela toma passa para o leite, e que possa fazer mal para o recém-nascido. Fora os remédios não há nenhuma contra-indicação pela doença em si à amamentação.
Miastenia Congênita
Até agora falamos da gravidez na Miastenia Gravis. Há, entretanto, outra doença, com sintomas similares, chamada Miastenia Congênita. Enquanto na primeira há alteração no sistema imune do paciente, na segunda há mutação genética que leva à má-formação das estruturas na região dos nervos ou dos músculos.
Existem quatro tipos dessa doença, que também é chamada coletivamente de Síndromes Miastênicas Congênitas: pré-sinápticas, sinápticas, pós-sinápticas e por defeitos na glicosilação. As mais comuns são as pós-sinápticas e, no Brasil, um estudo conduzido na USP pelo Dr. Eduardo Estephan verificou que 1/3 dos casos apresenta uma mesma mutação, provavelmente herdada de portugueses.
Na Miastenia Congênita, portanto, entra o fator hereditário, e não há um problema de autoimunidade, não sendo necessário medicações como corticoide para diminuir imunidade. A maioria dos casos apresenta os primeiros sintomas nos primeiros dois anos de vida.
“A doença é genética de padrão de herança recessiva, ou seja, são necessárias duas mutações para que a doença ocorra”, diz ele. Os pacientes com essas síndromes recebem uma mutação do pai e uma mutação da mãe. Os pais geralmente não têm a doença, pois têm apenas uma mutação cada um.
De acordo com o Dr. Estephan, para um casal que já teve um filho com Miastenia Congênita, a probabilidade de outros filhos virem a ter a doença é de 25%. Já os pacientes com a doença genética têm pouca chance de transmitir para seus filhos (em torno de 0,01%, a depender do gene), já que seria necessário formar um casal com uma pessoa que também apresentasse a mutação. No entanto, se houver casamento dentro da mesma família, essa chance pode chegar a 50%.