A miastenia é uma doença neuromuscular rara, que causa fraqueza muscular e fadiga. Embora os sintomas da miastenia possam afetar diversos sistemas musculares do nosso corpo, um dos aspectos mais críticos e desafiadores dessa doença é a dificuldade respiratória que está associada a ela. Então, continue a leitura para saber:
- O que é miastenia?
- Quais são os sinais e sintomas da miastenia?
- Quais são os tratamentos da miastenia?
- Qual a importância do treinamento muscular respiratório (TMR) para quem tem miastenia?
- O TMR também é indicado para quem tem miastenia e passou por intervenção cirúrgica?
- Como é feito o TMR?
O que é miastenia?
A miastenia é uma doença neuromuscular crônica, que provoca fraqueza muscular e fadiga extrema. Ela é uma condição rara que prejudica, principalmente, os músculos que controlam os movimentos dos olhos, a deglutição e a respiração. Existem dois tipos de miastenia, que podem começar a se manifestar em diferentes fases da vida:
Miastenia gravis – as manifestações costumam iniciar na fase adulta e a doença é autoimune. O que significa que o sistema imunológico da pessoa tem um mau funcionamento e produz anticorpos que atacam e bloqueiam os receptores de acetilcolina nas células musculares dela. A acetilcolina é um neurotransmissor essencial para a comunicação entre os nervos e os músculos. Acredita-se que a glândula timo, localizada no tórax, contribua para a produção dos anticorpos que desencadeiam a miastenia gravis.
Miastenia congênita – é hereditária e as primeiras manifestações acontecem na infância geralmente. A maioria dos casos desse tipo se deve a certos genes defeituosos recessivos. Então, para que a criança desenvolva a doença, é necessário que tanto o pai quanto a mãe tenham esses genes. Entretanto, a miastenia congênita também pode ser causada por genes defeituosos dominantes, ou seja, basta que o pai ou a mãe tenha para que a criança desenvolva, o que é extremamente raro.
Diagnóstico da miastenia
O diagnóstico da miastenia é feito pelo médico com base nos sinais e sintomas que a pessoa apresenta, no histórico familiar dela e nos resultados de uma série de exames, tais como:
- Exames físicos para verificar a presença de fraqueza muscular;
- Testes de sangue para detectar anticorpos específicos;
- Estudos eletrodiagnósticos para avaliar a resposta muscular aos estímulos elétricos;
- Imagem diagnóstica, como tomografia computadorizada, para verificar a presença de timomas.
Quais são os sinais e sintomas da miastenia?
A miastenia é uma doença caracterizada por fraqueza muscular que piora quando o músculo afetado é usado. Os sintomas melhoram com o descanso, mas tendem a progredir ao longo do tempo. Em geral, os principais sinais e sintomas da miastenia são os seguintes:
- Fraqueza muscular, que pode afetar qualquer músculo controlado voluntariamente;
- Queda de uma ou ambas as pálpebras, chamada de ptose;
- Visão dupla, chamada de diplopia, que pode ser horizontal ou vertical e melhora ao fechar um olho;
- Dificuldade na fala, com voz suave ou nasal, dependendo dos músculos afetados;
- Dificuldade na deglutição, levando a engasgos frequentes e, às vezes, líquidos saindo pelo nariz;
- Fraqueza na mastigação, especialmente durante refeições com alimentos difíceis de mastigar;
- Alterações nas expressões faciais, como um sorriso que parece um rosnado;
- Fraqueza no pescoço, braços e pernas, afetando a postura e a locomoção.
Os bebês e as crianças com miastenia podem apresentar sinais e sintomas específicos, tais como:
- Redução de movimentos do feto ainda no útero ou do bebê após o nascimento;
- Choro fraco;
- Dificuldade para sugar e engolir durante a amamentação;
- Demora para aprender a engatinhar e ficar sentado;
- Dificuldades em atividades do dia a dia ou que exijam esforço físico, como a prática de esportes;
- Infecções respiratórias frequentes;
- Pouca expressão facial.
Quais os tratamentos da miastenia?
Embora não haja cura para a miastenia, existem tratamentos disponíveis para controlar as manifestações e melhorar a qualidade de vida. Algumas opções para a miastenia gravis são:
- Medicamentos para melhorar a transmissão neuromuscular;
- Medicamentos para modular a resposta imunológica;
- Terapias que removem anticorpos prejudiciais do sangue;
- Remoção cirúrgica do timo (timectomia).
Em alguns casos, a miastenia gravis pode entrar em remissão, permitindo que os pacientes experimentem uma melhora significativa ou até mesmo a resolução completa dos sinais e sintomas. No entanto, o acompanhamento médico contínuo é essencial para monitorar a doença e ajustar o tratamento conforme necessário.
Já no caso da miastenia congênita, os tratamentos podem variar conforme o subtipo dela. Mas, no geral, consiste em terapia preventiva com medicamento que inibe a atividade da acetilcolinesterase, uma enzima que catalisa a quebra da acetilcolina e de algumas substâncias que funcionam como neurotransmissores. Isto prolonga o tempo de vida da acetilcolina e, consequentemente, o número de receptores de acetilcolina que ela pode ativar.
Qual a importância do treinamento muscular respiratório (TMR) para quem tem miastenia?
O treinamento muscular respiratório (TMR) é uma técnica que visa melhorar a função dos músculos respiratórios por meio de exercícios específicos. O TMR desempenha um papel importante no contexto da miastenia, pois a fraqueza muscular que ela provoca pode afetar os músculos respiratórios.
Quando realizado junto a outros tratamentos, ele ajuda a pessoa com miastenia a tornar a inspiração e a expiração mais eficientes. Além disso, o TMR pode influenciar outras respostas metabólicas e relacionadas ao esforço, como a fadiga e a frequência cardíaca. Então, ao treinar os músculos respiratórios, também é possível melhorar a tolerância ao exercício e reduzir o esforço percebido durante a execução dele. No geral, o treinamento muscular respiratório contribui para:
- Melhorar a qualidade de vida;
- Aumentar a capacidade de realizar atividades diárias com conforto e eficiência.
Importante! O TMR deve ser realizado sob a supervisão de um profissional de saúde e adaptado às necessidades individuais de cada paciente com miastenia.
O TMR também é indicado para quem tem miastenia e passou por intervenção cirúrgica?
Juntamente com o exercício aeróbico, o treinamento muscular respiratório pode ter efeitos positivos na recuperação respiratória após a cirurgia, pois ele melhora significativamente a força dos músculos respiratórios e a resistência respiratória, além de diminuir o risco de sentir falta de ar.
Estudos indicam que o TMR é seguro e pode reduzir as complicações pós-operatórias e o tempo de internação hospitalar em pessoas submetidos a cirurgias em geral, incluindo pessoas com miastenia. Isso se aplica especialmente à timectomia, que é a remoção cirúrgica do timo para tratar a miastenia, intervenção que se tornou menos invasiva, o que também já facilita a recuperação.
Como é feito o TMR?
O TMR inclui o treinamento muscular inspiratório (IMT) e expiratório (EMT). Eles podem ser feitos separadamente ou combinados. Existem três princípios de treinamento que se aplicam aos músculos respiratórios:
- Sobrecarga
Para obter uma resposta de treinamento, os músculos são sobrecarregados. Isso pode ser feito alterando a duração, intensidade ou frequência dos exercícios de respiração.
- Especificidade
A resposta ao treinamento depende do tipo de estímulo aplicado. Estes estímulos podem ser de força, com alta intensidade e curta duração, ou de resistência, com baixa intensidade e longa duração.
- Reversibilidade
Quando uma pessoa deixa de fazer o TMR, há perda de toda força e resistência ganhada até então. Isso ocorre dentro de 2 ou3 meses após a interrupção do treinamento.
O TMR pode ser personalizado de acordo com as necessidades individuais. Existem dois tipos principais de métodos de treinamento:
- O treinamento de pressão de limiar inspiratório (IPTL) é o método mais comumente usado, pesquisado e validado do TMR. Nele, as pessoas respiram por meio de um dispositivo que contém uma válvula inspiratória carregada de pressão e uma válvula expiratória descarregada.
- O treinamento de resistência envolve a manutenção de altos níveis de respiração por até 40 minutos. Ele utiliza um método de hiperventilação voluntária isocápnica (VIH), que emprega um circuito de reinalação parcial para evitar a hipocapnia, que é uma redução no nível de dióxido de carbono no sangue, geralmente causada por hiperventilação.
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Referências
- https://www.ninds.nih.gov/health-information/disorders/myasthenia-gravis – acessado em 13/09/2023;
- https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/myasthenia-gravis/symptoms-causes/syc-20352036 – acessado em 13/09/2023;
- https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/relatorios/2022/20220606_relatorio580_miastenia-gravis_final.pdf – acessado em 13/09/2023;
- https://www.hopkinsmedicine.org/health/conditions-and-diseases/myasthenia-gravis – acessado em 13/09/2023;
- https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/17252-myasthenia-gravis-mg – acessado em 13/09/2023;
- https://rarediseases.org/rare-diseases/congenital-myasthenic-syndromes/ – acessado em 13/09/2023;
- https://rarediseases.info.nih.gov/diseases/11902/congenital-myasthenic-syndromes – acessado em 13/09/2023;
- https://www.physio-pedia.com/Respiratory_Muscle_Training – acessado em 13/09/2023;
- https://cardiothoracicsurgery.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13019-023-02283-5 – acessado em 13/09/2023.