A dificuldade de engolir, que é a chamada Disfagia, é um dos sintomas frequentes entre as pessoas que sofrem de Miastenia Gravis. O que acontece nesses casos é que os alimentos e até líquidos não seguem de forma natural o percurso da garganta (faringe) passando pelo esôfago, que é como um duto até o estômago.
A deglutição, como é chamado o ato de engolir alimentos e líquidos, é uma ação automática. Comandada pelo cérebro, a ação tem a função de levar o que colocamos na boca, mastigado ou não, até o estômago. Também serve para “limpar” as vias respiratórias.
Entretanto, não é simples o processo de engolir. Envolve diversos músculos pequenos na região, que funcionam de forma coordenada pelo cérebro. É como uma orquestra: o cérebro é o maestro e os músculos são os músicos, que tocam seus respectivos instrumentos (realizam seu trabalho no processo).
Alguns desses músculos precisam se contrair, e não de forma aleatória: cada um precisa de uma força diferente e entra em cena em uma ordem sequencial.
Assim, o alimento (ou líquido) segue um curso da boca para a garganta, que tem que descer para o esôfago; e a parte inferior deste último tem então que relaxar, permitindo a passagem do alimento para o estômago.
Qual a relação da disfagia com a Miastenia Gravis?
Como a Miastenia Gravis impede o pleno funcionamento do comando do cérebro para os nervos e os músculos realizarem uma determinada ação, se ela se manifestar na região da orofaringe – que vai da base da língua até o final da garganta, passando pelo palato mole, amígdalas e toda a lateral da garganta –, a pessoa não consegue ou tem dificuldades para engolir. Isso porque os músculos envolvidos ou perdem a força subitamente, ou não atuam como deveriam.
A fraqueza que dificulta o ato de engolir costuma também ser vinculada à disfunção bulbar, que reúnem os músculos da deglutição, da fala, do movimento da mandíbula, língua e lábios.
Na Miastenia Gravis, alguns pacientes podem sentir somente um desconforto ao engolir, enquanto outros sentem como se a garganta estivesse totalmente bloqueada, inclusive podendo causar dores na região. Outros ainda podem ter a sensação de que o que foi ingerido fica preso no meio do caminho, sem conseguir chegar ao estômago.
A fraqueza dos músculos, na MG, pode ser súbita, ocorrendo aparentemente sem uma explicação, ou intermitente, com episódios de durações variáveis, de minutos a semanas.
Outros sintomas:
Geralmente, a dificuldade para engolir nos miastênicos não é um sintoma isolado. Na maioria das vezes, ele está acompanhado de um ou mais sintomas, tais como:
- fraqueza no braço ou na perna quando o músculo é intensamente utilizado e que melhora com o descanso;
- pálpebra caída (ptose);
- visão dupla ou borrada;
- dificuldade para falar e/ou mastigar;
- fadiga extrema generalizada que impede a pessoa de fazer qualquer coisa;
- voz anasalada;
- regurgitação de líquidos e sólidos pelo nariz;
- dificuldade para respirar, entre outros.
Não há números oficiais, mas estima-se que a disfagia seja o primeiro sintoma de Miastenia Gravis em 27% dos pacientes. Outra estimativa aponta para o universo de cerca de 63% miastênicos diagnosticados que sofrem com a dificuldade de engolir, em algum momento do decorrer da doença, a qual não tem cura, mas conta com tratamento para os sintomas.
Outras possíveis causas
Considerada uma doença rara, a Miastenia Gravis é um distúrbio neuromuscular. Entre os distúrbios musculares, a dificuldade de engolir pode estar ligada a doenças como a dermatomiosite (que além de fraqueza muscular, também provoca erupções vermelhas na pele) e a distrofia muscular (doenças genéticas que causam fraqueza progressiva e perda de massa muscular).
A Disfagia também pode ocorrer em pacientes com distúrbios cerebrais ou do sistema nervoso e nos distúrbios do esôfago. No primeiro deles, está o acidente vascular cerebral (AVC), a doença de Parkinson, a esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Já os distúrbios do esôfago, caracterizados por um bloqueio físico, pode ser consequência de câncer nesse órgão ou cicatrizes causadas por refluxo, entre outras. Há ainda aqueles caracterizados por redução das contrações e relaxamento do esôfago, cuja causa costuma ser a esclerose sistêmica.
Algumas vezes, não há doenças associadas à dificuldade de engolir, apenas maus hábitos. Entre eles, engolir pedaços grandes de alimento, não mastigar suficientemente, falta de saliva (boca seca), comida ou bebida muito quente.
Disfagia em idosos
O envelhecimento reduz, naturalmente, a capacidade de engolir e mastigar, mesmo nos idosos saudáveis. Então, é normal a perda da força e da coordenação da mastigação conforme a idade avança. Apesar disso, a maior incidência de Miastenia Gravis em homens ocorre após os 60 anos, com pico entre 70 e 75 anos de idade.
Como o problema da disfagia pode ser decorrente de uma série de doenças ou até hábitos errados, somente um médico é capaz de traçar um diagnóstico correto. Então, se você ou um ente querido está tendo dificuldades para engolir, é bom compartilhar com um médico, preferencialmente um neurologista com experiência em doenças raras.