A maioria dos métodos contraceptivos contém hormônio. E eles podem interferir nos sintomas de quem tem Miastenia Gravis (MG). Isso depende, no entanto, da condição em que a MG se encontra e do tipo de método contraceptivo utilizado.
Além disso, os efeitos que os hormônios provocam, de uma forma geral, variam de pessoa para pessoa. “Há mulheres com Miastenia que até se beneficiam com o uso contínuo de métodos contraceptivos, especialmente aqueles que não contém estrógeno em sua formulação”, avisa o médico neurologista Dr. Eduardo Estephan, do Grupo de Miopatias e do Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas/FMUSP e do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Santa Marcelina, em São Paulo.
Os métodos contraceptivos podem conter ou não estrógenos (derivados do estrogênio) e progestágenos (derivados da progesterona). E a mulher, com ou sem MG, já vive com consecutivos altos e baixos desses hormônios, mesmo sem evitar engravidar.
A menstruação naturalmente provoca uma variação bastante acentuada nos níveis hormonais, o que pode interferir nos sintomas da MG. Mas isso acontece de forma transitória, e tem quem piora muito, enquanto outras nem tanto, conforme explica o Dr. Estephan.
Os tipos de métodos contraceptivos
Basicamente, existem as pílulas anticoncepcionais, o DIU (dispositivo intrauterino), o implante, a injeção, o adesivo e o anel vaginal, além do diafragma e dos preservativos, que são considerados métodos de barreira.
As pílulas podem ser divididas em dois grupos:
1) o que contém progestágeno e estrógeno.
2) o que contém somente progestágeno, que também é chamada minipílula. São pequenos comprimidos que devem ser tomados diariamente no mesmo horário.
Vale citar também a pílula do dia seguinte, mas que só deve ser tomada em casos de emergência, ou seja, quando a mulher tem relação sexual sem proteção. Miastênicas devem evitá-la, já que tem uma quantidade ainda maior de hormônios.
A injeção é o anticoncepcional aplicado no músculo. Também tem a opção entre só com progestágeno e a combinada (progestágeno e estrógeno). Ela é aplicada uma vez por mês ou a cada três meses, conforme o tipo escolhido.
Igualmente às pílulas anticoncepcionais, o DIU também é apresentado em dois tipos:
1) o que contém hormônio, no caso progestágeno.
2) o sem hormônio, que é um DIU de cobre. Inserido no útero, através da vagina, por profissional da saúde, o dispositivo em formato de “T” libera baixas doses de hormônio (no caso do tipo 1) ou íons de cobre (tipo 2) de forma contínua por até cinco anos (tipo 1) e por cinco ou dez anos (tipo 2, conforme a escolha da paciente).
O implante é um pequeno bastão de silicone, colocado com uma agulha na parte superior do braço por um profissional da saúde, após anestesia local. Ele dura até três anos e, durante esse período, vai liberando pequenas quantidades de progestágeno na corrente sanguínea.
O anel vaginal é transparente e flexível e colocado na parede vaginal pela própria mulher do mesmo jeito que se insere um absorvente interno. Durante três semanas, ele libera doses de progestágeno e estrógeno. Ao final desse tempo, ele deve ser retirado e, após uma semana de pausa, um novo anel deve ser inserido.
O adesivo, por sua vez, parece um esparadrapo brilhante que é colado na pele (abdômen, costas, nádega ou braço). Ele libera progestágeno e estrógeno e deve ser substituído uma vez por semana, durante três semanas, dando uma pausa de uma semana, para então recomeçar.
Há também os métodos de barreira, como os preservativos (ou camisinha) masculino e feminino, o diafragma (um disco flexível que impede que o esperma chegue até o útero) e o capuz cervical (que parece um capuz de material macio e um aro ao redor que também impede o contato do esperma com o útero).
É bom lembrar que esses métodos de barreira, assim como a tabelinha ou o coito interrompido, não têm a eficácia dos contraceptivos.
O que é indicado para miastênicas?
Como você pôde conferir, existem várias opções de métodos contraceptivos no mercado, mas será que quem tem MG pode recorrer a qualquer um deles, sem impactar nos sintomas de sua doença?
A resposta é: depende. “Teoricamente, depende da paciente. Não é igual para todas”, responde o Dr. Estephan.
Depende se a Miastenia Gravis está mais ou menos compensada, e se a miastênica tem maior ou menor sensibilidade ou tolerância às variações hormonais naturais do ciclo hormonal, por exemplo.
“Quem não sofre grande influência com as variações hormonais do mês e está com a Miastenia bem compensada pode tomar a pílula combinada. Se piorar os sintomas, é só trocar o método”, diz o especialista.
“Por outro lado, a mulher que já apresenta muita oscilação com a menstruação ou a que não está muito bem com a Miastenia, não deve arriscar ao tomar a pílula com estrógeno”, pontua ele.
Até por não haver muitos estudos científicos sobre esse assunto, ele explica que, também teoricamente, o estrógeno tem um efeito maior na MG. Então, na dúvida, dar preferência pelos métodos com o mínimo de hormônio possível e sem estrógeno.
“Nenhum é 100% garantido de não piorar os sintomas da Miastenia. O risco existe, mas é menor do que se exposto ao estrógeno”, destaca o especialista. E, entre todos os métodos, os mais usados são a pílula anticoncepcional e o DIU.
“As mulheres com muita oscilação de progestágeno, na média, se sentem melhores com métodos contínuos. O mesmo vale para os injetáveis, porque a mulher não menstrua e, por isso, tem menos sintomas”, conclui.
Entre os hormônios, portanto, o grande vilão é o estrógeno, que ainda costuma ser associado ao maior risco de efeitos trombóticos, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
Os hormônios no ciclo menstrual
A variação dos níveis de hormônio estrógeno no corpo da mulher é o que está por trás dos sintomas comuns da TPM (tensão pré-menstrual). Algumas mulheres têm sintomas físicos e emocionais bastante intensos, enquanto outras passam praticamente ilesas.
No decorrer de cada mês, o útero é preparado para uma gestação e, por isso, ocorrem várias alterações no corpo da mulher.
Durante 14 dias, em média, os níveis de estrógeno – que tem função importante no controle da sensação de bem-estar – aumentam. Nessa fase, acontece o período de ovulação.
Em seguida, as paredes do útero engrossam para abrigar um óvulo fecundado. Aí há uma queda dos níveis de estrógeno e um aumento nos de progestágeno.
Se não houver uma gravidez, a parede do útero descama, material que é então descartado pelo canal vaginal. É a menstruação em si. Nesse momento ambos os hormônios (estrógeno e progestágeno) têm nova queda em suas taxas.
Depois disso, começa tudo de novo…
Esses altos e baixos dos níveis hormonais provocam sintomas diversos entre as mulheres, assim como variam de intensidade. Entre eles, estão principalmente ansiedade, alterações do humor, irritabilidade, dores nas mamas, cólicas, dor de cabeça.
Quem tem Miastenia Gravis pode, como toda mulher, ter esses sintomas, mas ainda ter agravado aqueles próprios da doença autoimune, como ter a fadiga exacerbada, por exemplo.
Fonte: https://www.gineco.com.br/saude-feminina/metodos-contraceptivos/