A Miastenia Gravis não tem cura justamente por ser uma doença autoimune. Entretanto, com o tratamento adequado, o paciente pode ter uma vida normal, ou quase normal.
“Em nenhuma doença autoimune, como a Miastenia Gravis, falamos em cura”, destaca o médico neurologista Eduardo de Paula Estephan, do Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo e do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Santa Marcelina, também na capital paulista.
Apesar da Miastenia Gravis não ter cura, essa doença, que é considerada rara, muito dificilmente leva o paciente a óbito, justamente pelo avanço nos tratamentos disponíveis.
Poucos são os dados consolidados, mas fala-se que até a década de 1950 entre 30% e 70% dos miastênicos morriam como consequência da doença.
Esse índice caiu para 15% na década seguinte e para 5% na de 1970. Hoje, há riscos severos no caso da crise miastênica, que atinge o sistema respiratório, especialmente o diafragma. O paciente deve ser levado para uma UTI, necessitando suporte respiratório. Se não for socorrido, o paciente pode ter insuficiência respiratória.
O que faz uma doença ser classificada como autoimune?
O sistema imunológico de cada pessoa tem a função de produzir anticorpos para combater e destruir “invasores nocivos” no nosso organismo, como vírus e bactérias, por exemplo. Quando pegamos uma gripe, o próprio sistema imunológico sai à caça do vírus para destruí-lo.
Nas chamadas doenças autoimunes, o sistema imunológico não distingue o invasor do que não é invasor. Então, são produzidos anticorpos que atacam células normais.
“Na Miastenia, há a produção de autoanticorpos, como são chamados os anticorpos que atacam o próprio organismo que os produz”, explica Estephan, que também é diretor científico da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia).
Esses anticorpos, na MG, têm como alvo o ponto de comunicação entre o nervo e o músculo, que é a chamada junção neuromuscular. Para movimentarmos um músculo de controle voluntário (para andar, falar, engolir etc.), é liberado um neurotransmissor (a acetilcolina) para que ocorra a contração muscular.
Quase todos os miastênicos produzem anticorpos contra o receptor da acetilcolina, causando então fraqueza muscular, fadiga extrema, entre outros sintomas, apesar de terem nervos e músculos sadios.
“O cérebro manda um comando, a informação viaja pela medula, passa pelos nervos, mas não consegue atingir todas a fibras musculares necessárias, e o músculo se contrai com menos força”, afirma o especialista médico.
Então, como a Miastenia Gravis envolve a autoimunidade da pessoa, ainda não se descobriu como atuar na cura.
Tratamento adequado
As opções para um doente diagnosticado são os tratamentos dos sintomas e/ou para diminuir a imunidade. O que usar depende de cada paciente, que é impactado de forma diferente, tanto na intensidade, quanto no grupo muscular que é atingido.
“Existem apresentações variadas entre os pacientes, com diferentes combinações de músculos acometidos. Aliás, no mesmo paciente a doença pode variar de um dia para outro.” Por isso, o tratamento sintomático só pode ser definido por um médico, com experiência em Miastenia.
“A maioria precisa de tratamento para diminuir a imunidade, e para a vida toda”, pontua Estephan. De acordo com ele, cerca de um terço dos miastênicos tratados têm remissão por um longo período de tempo.
Entretanto, esses pacientes podem voltar a ter recaída, depois de cinco a 20 anos sem ter apresentado um sintoma sequer. “O tratamento correto aumenta a chance de remitir.”
A possibilidade de um doente ser tratado e conseguir levar uma vida normal não deixa de ser uma boa notícia. Além disso, felizmente, casos muito graves de Miastenia Gravis são exceção.
Também positivo é que há muitos estudos da doença em curso, em várias partes do mundo, e até por isso há avanços significativos na questão dos tratamentos, principalmente para os casos considerados refratários, aqueles em que o paciente não melhora com as doses habituais da medicação.
Quais são os tratamentos?
- Medicamentos para aumentar a quantidade de acetilcolina na junção neuromuscular. Com ação rápida, eles aumentam a força muscular.
- Medicamentos que reduzem a produção de anticorpos contra os receptores da acetilcolina. Eles combatem a reação autoimune.
- Outros tratamentos: Há algumas imunoterapias, como plasmaferese (troca de plasma que filtra parte do sangue) e imunoglobulina (injeta anticorpos para alterar temporariamente o sistema imunológico). Há ainda a cirurgia para retirada do timo (pequena glândula envolvida na formação do sistema imunológico), indicada para quando a causa da MG é um tumor de timo (caso de 10% dos miastênicos) e em casos refratários.