Uma pessoa com Miastenia Gravis deve ter cuidado ao tomar qualquer medicamento sem ouvir antes a opinião de seu médico neurologista especialista na patologia.
Até mesmo um antiácido, aparentemente inofensivo, pode impactar negativamente os sintomas da Miastenia Gravis, se contiver em sua formulação magnésio, por exemplo.
Isso é importante: uma série de medicamentos são, em princípio, contraindicados para quem tem Miastenia Gravis. As razões são complexas, mas, simplificando, alguns medicamentos – ou substâncias presentes nesses produtos – podem interferir na transmissão neuromuscular.
Lembramos que a Miastenia é uma doença autoimune, ou seja, o sistema imunológico do miastênico produz anticorpos que atacam células normais e sadias exatamente no ponto de comunicação entre nervo e músculo (a chamada junção neuromuscular).
Por que alguns medicamentos devem ser evitados?
Como já existe um erro nesse processo, ao fazer o uso adicionalmente de um medicamento que também interfere nessa transmissão, o miastênico pode ter seus sintomas exacerbados.
“Há ainda, mais raramente, alguns medicamentos que podem intensificar uma resposta autoimune, induzindo maior produção de auto-anticorpos. Ou seja, essas medicações podem aumentar o ataque do sistema imunológico a células normais do próprio organismo”, avisa o médico neurologista Eduardo Estephan, do Grupo de Miopatias e Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas/FMUSP e do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Santa Marcelina, de São Paulo.
Entretanto, alguns dos medicamentos considerados proibidos podem não ter efeito negativo sobre a MG, essencialmente em pacientes que estejam com a doença sob controle. Há casos ainda em que o médico receita um desses medicamentos para o miastênico, depois de considerar que os benefícios são maiores do que os riscos.
“Se formos rigorosos podemos dizer que não há na verdade nenhum medicamento 100% seguro para pacientes com síndromes miastênicas. No entanto, também podemos dizer que apenas uns raros medicamentos têm comprovação científica que pioram quadros clínicos de miastênicos de forma grave (e esses, sim, devem ser evitados a qualquer custo)”, pontua o Dr. Estephan, que também é professor do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina Santa Marcelina.
De acordo com ele, na prática clínica é observado que os miastênicos em geral toleram bem a maioria das medicações. “Quando há realmente uma piora relacionada a uma medicação, na grande maioria das vezes, ela é transitória e não muito intensa.
Dessa forma, a maior preocupação fica sendo com aqueles pacientes que já não estão bem, pois para eles uma pequena piora pode ser a gota d’água para desenvolver uma fraqueza respiratória, por exemplo.”
Percebe, agora, a razão pela qual deve consultar o seu especialista antes de se automedicar?
Lista de medicamentos da Abrami
A Associação Brasileira de Miastenia (Abrami) listou os principais medicamentos genéricos (veja a lista abaixo) que devem ser evitados pelos pacientes de Miastenia Gravis.
A Abrami recomenda, inclusive, que o paciente esteja sempre com essa lista, para o caso de um atendimento de emergência, a qual vai auxiliar o profissional que atendê-lo a ministrar medicamentos que não vão provocar a piora dos sintomas da Miastenia.
Alguns medicamentos têm comprovação científica de afetar a transmissão do nervo para o músculo. Outros, porém, ainda são considerados suspeitos.
Recomendações da Myaware
Quando um miastênico precisa tratar alguma infecção, seu médico poderá prescrever um antibiótico, por exemplo.
De acordo com a Myaware, instituição de caridade do Reino Unido que atende exclusivamente pacientes com Miastenia desde 1968, os antibióticos com maior probabilidade de agravar a doença são aqueles indicados para infecções severas. Estes, em geral, são injetáveis e administrados em ambiente hospitalar.
Entretanto, a Myaware recomenda fortemente que seja evitado o antibiótico telitromicina em miastênicos, porque já causou mortes.
Ainda segundo a Myaware, betabloqueadores (para tratar pressão alta, angina e ansiedade) provocam sensação de cansaço, mas raramente pioram o quadro da Miastenia, enquanto medicamentos usados em distúrbios neurológicos e psiquiátricos devem ser ministrados com cautela, apesar de poucas evidências de que causem problemas no paciente.
Miastenia Gravis: medicamentos que devem ser evitados (em negrito os mais importantes)
Analgésicos | morfina, dipirona magnésica. |
Anestésicos gerais | éter, clorofórmio, ketamina, metoxifluorano. |
Anestésicos locais | lidocaína (dar preferência ao uso com vasoconstritor). |
Anticolinérgicos | amitriptilina, baclofeno |
Anticonvulsivantes | hidantoínas, barbitúricos, benzodiazepínicos, etossuximida, trimetadiona. |
Anti-histamínicos | todos |
Antimicrobianos/Antibióticos | aminoglicosídeos, tetracilina, lincomicina, clindamicina, polimixinas, bacitracina. |
Antimaláricos | quinino, cloroquina. |
Antirreumáticos | d-penicilamina, cloroquina, colchicina. |
Cardiovasculares | quinidina, procainamida, lidocaína (via sistêmica), guanetidina, trimetafan, betabloqueadores, sulfato de magnésio, reserpina, antagonistas do cálcio. |
Hormônios | ACTH e corticosteroides (usar só com acompanhamento neurológico), ocitocina, anticoncepcionais. |
Imunizações | algumas vacinas (saiba mais aqui) e soro antitetânico. |
Laxantes e enemas | todos com magnésio |
Psicotrópicos | benziodiazepínicos, carbonato de lítio, antidepressivos tricíclicos, inibidores da MAO, neurolépticos (fenotiazinas e butirofenonas). |
Relaxantes musculares maiores | pancurônio, succinilcolina, d-turbocurarina. |
Relaxantes musculares menores | benzodiazepínicos, baclofen, dantrolene, meprobamato. |
Fonte: Abrami
Fontes de pesquisa:
https://www.abrami.org.br/medicamentos/medicamentos-que-devem-ser-evitados
https://miastenia.ong/wp-content/uploads/2018/05/RESUMEN-FARMACOS-1.pdf
http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/1999/RN%2007%2003/Pages%20from%20RN%2007%2003-5.pdf
https://www.myaware.org/drugs-to-avoid
https://www.drgustavofranklin.com.br/miastenia