Normalmente, os adultos devem fazer duas visitas anuais ao odontologista para cuidar da saúde bucal, segundo a Associação Brasileira de Odontologia. Entretanto, as pessoas com miastenia gravis precisam de uma atenção especial em relação à saúde bucal, inclusive em relação à frequência do acompanhamento odontológico. Continue a leitura para entender como paciente e profissional podem se preparar para a consulta e quais cuidados devem ser tomados com o uso de próteses.
Quais aspectos odontológicos a miastenia gravis pode afetar?
A miastenia gravis é uma doença autoimune, que afeta a comunicação entre nervos e músculos, o que provoca fraqueza e fadiga rápida de qualquer um dos músculos sob controle voluntário. Incluindo a musculatura respiratória e a utilizada para a mastigação e deglutição dos alimentos. Tudo isso pode interferir nos tratamentos com o dentista ou fazer com que eles sejam mais necessários.
Por ser uma doença que enfraquece a musculatura necessária para a mastigação, a miastenia gravis pode provocar complicações dentais e tornar a ida ao dentista muito difícil de ser concretizada. Além disso, estudos já demonstraram que doenças autoimunes podem aumentar o risco de desenvolver doenças periodontais – uma condição inflamatória que afeta a estrutura de suporte do dente, sendo uma das principais causas de perda dentária.
A perda dentária é um grande problema para os pacientes de miastenia, que já enfrentam uma grande dificuldade em mastigar e deglutir alimentos pela falta de tônus muscular na região. Outros problemas bucais relacionados à miastenia gravis são:
- Língua flácida e atrofiada, além de apresentar acúmulo de tecido gorduroso e sulcos;
- Fraqueza no maxilar inferior com episódios em que a boca fica “pendurada”;
- A fraqueza muscular pode dificultar o uso de dentaduras, alterando a salivação e agravando a fadiga muscular na região da boca.
Como a pessoa que tem miastenia gravis e profissional podem se preparar antes da consulta?
Um dos principais fatores que pode interferir na consulta com o dentista é o nervosismo e a tensão, que podem provocar uma crise miastênica em pleno consultório. Por isso, é fundamental buscar um profissional de confiança, com quem o paciente se sinta confortável e possa dialogar sobre tudo o que será feito naquele dia.
Por outro lado, o dentista precisa ter consciência de que aquele paciente tem necessidades especiais e se preparar para recebê-lo da melhor forma possível. Vale, por exemplo, criar um ambiente tranquilo e calmo para que o indivíduo possa chegar e se ambientar antes de seguir para o tratamento. A cadeira deve ser mantida de forma vertical, já que muitos pacientes têm dificuldade em manter-se deitados durante toda a consulta.
O melhor horário para a consulta é de manhã, quando a maioria dos pacientes tem mais força muscular. Recomenda-se ainda a ingestão da medicação uma ou duas horas antes da ida ao consultório para que os efeitos terapêuticos possam ajudar a reduzir riscos de complicações.
Atenção! É importante levar em consideração que os miastênicos podem apresentar aspiração pulmonar pela incapacidade muscular orofaríngea. Por isso, é importante que o dentista utilize um sistema de sucção efetivo e isolamento absoluto durante o procedimento, bem como um abridor de boca como medida de segurança.
Quais cuidados com o paciente que tem miastenia gravis devem ser tomados durante a consulta com o dentista?
Quem tem miastenia gravis em estágio inicial ou intermediário e pouco comprometimento muscular pode ser tratado em clínicas odontológicas sem problemas. No entanto, aqueles em que a doença já está mais acentuada e atingiu áreas como a faringe e/ou o trato respiratório estarão mais seguros realizando a consulta em hospitais ou em locais com estrutura para intubação e suporte respiratório, que podem ser necessários em caso de uma crise durante o procedimento.
Na eventualidade de ser necessária alguma cirurgia, é importante que o dentista lembre que algumas medicações e anestésicos podem criar complicações para os pacientes miastênicos ao intensificar a fadiga muscular, interferindo na capacidade respiratória. No caso das anestesias, a de uso local é a mais recomendada para evitar possíveis problemas respiratórios.
Qual a melhor forma de evitar complicações dentais em quem tem miastenia gravis?
A melhor forma de prevenção é evitar a necessidade de correr para o consultório devido a alguma emergência bucal, já que situações estressantes podem agravar os sintomas da miastenia. Por isso, é papel do dentista orientar e incentivar bons hábitos de higiene e cuidados dentais realizados em casa, não importando a dificuldade ou o grau da doença. É fundamental escovar os dentes após as refeições e utilizar fio dental diariamente.
Além disso, é importante fazer visitas regulares ao dentista para limpezas mais profundas. Assim como check-ups para evitar o acúmulo de placa bacteriana, o que aumenta o risco para inflamação nas gengivas e cáries.
Quais cuidados devem ser tomados com as próteses dentais?
Com a musculatura enfraquecida em decorrência da doença, os pacientes com miastenia gravis podem ter reduzida sua capacidade de manusear próteses totais, dificultando a retenção da prótese inferior e impedindo uma vedação adequada para a prótese superior.
Por isso, quando existe necessidade de se repor dentes perdidos com o uso de dentadura, é importante evitar as versões muito alongadas e contornos largos, que podem estimular a fadiga muscular e alteração na salivação. Além disso, dentaduras mal ajustadas podem dificultar o fechamento da boca e provocar ainda fadiga na língua, lábio superior tensionado, boca seca e problemas mastigatórios. Então, o mais recomendado é que os dentistas optem pelo uso de próteses totais feitas com implante, o que traz mais benefícios e qualidade de vida ao paciente miastênico.
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Referências
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